Cândido B.C. Neto: Sertões Repovoados

20 de julho de 2020 - 07:34

Com a evolução do mundo virtual, a distância morreu. Numa reanálise da realidade recente, resgatei das lembranças na linha do tempo da nossa memória literária, uma reflexão a partir de fatos novos e importantes da Educação Superior. Com esse isolamento social, cada vez mais fica provado que as forças reprodutivas, associadas às relações de produção e ao avanço
do conhecimento, como se sabe, geram os mecanismos de sobrevivência de contrário. Os sertões ainda não viraram mar. Cada vez mais se intensificam as relações e o fracasso expõe as desigualdades regionais. Por um lado, as dificuldades de cidades do nosso Interior, e, por outro, o dilema populacional da capital e região metropolitana.

O “avanço do conhecimento” começa a criar um novo cenário e gerar uma expectativa positiva. Durante muito tempo, os homens estabeleceram relações negativas entre eles, na ética, na produção, na transformação da natureza. O sertão mais parecia um país do Funrural – os velhos, sempre, assumindo as paisagens desertas em substituição aos audaciosos, aos fortes, aos capazes, que abandonam tudo e todos, em busca “das terras do Sul”, como bem diz o nosso Patativa do Assaré. Mas, como sabemos, algum avanço, principalmente nos últimos anos, da educação técnica e superior, nos diversos recantos do Ceará, fortaleceram a interiorização das ações educacionais com suas possibilidades e estímulos pela permanência dos jovens e adultos na sua cidade de origem.

O processo de evolução civilizatório, sabemos, precisa de estágios característicos de modernização, motivando o homem ao trabalho e aos seus resultados imediatos. No Nordeste, o grande desafio sempre foi erradicar (ou reduzir) a migração histórica de cérebros, tão acentuada e prejudicial para as organizações das pequenas cidades, gerando a desestabilização das infraestruturas sociais e econômicas dos grandes centros.

Esta ação, hereditariamente, acontece de forma subumana, numa escala do menor para maior, processando-se da seguinte forma: o êxodo da zona rural para a cidade-sede, permanecendo-se, embora enfraquecidos, algumas ligações com o setor produtivo; o êxodo rural das pequenas cidades para a sede regional, gerado, político e administrativamente, pelas regionalização das ações estaduais e federais, e o mais violento de todos: o êxodo para as grandes metrópoles, a busca da solução para o estado de miséria na qual se encontra a família.

A interiorização da Educação Superior e as tecnologias se firmam como fortes instrumentos para acabar com os verdadeiros motivos pelos quais os homens migram, sofrendo as consequências brutais desta situação. Essas estatísticas ainda permanecem fora das principais questões públicas. Mas a expansão das vagas e matrículas nas instituições novas de ensino superior está colaborando, evitando que cada semana mais e mais jovens deixem sua terra, ocasionando a desagregação familiar, indo morar, muitas vezes, em situações precárias. Precisamos continuar investindo nessa política e mudando esse retrato das carências da população. Esse, ainda é um desafio permanente à responsabilidade e competência dos nossos gestores.
Atualmente, a Educação Superior vem consolidando sua expansão geoterritorial por todo o estado, principalmente as instituições públicas federais e estaduais, constituindo suas atividades e consolidando as três grandes áreas acadêmicas – ensino, pesquisa e extensão, melhorando a qualidade do ensino fundamental e médio e, por sua vez, na graduação e pós-graduação, objetivando a formação de profissionais e pesquisadores competentes, consolidando a vocação política das mais diversificadas demandas profissionais de cada região do Ceará.

Apesar de toda a complexidade desta organização, já se delineia a existência de mudanças na sua configuração, destacando-se o que costumamos chamar de “ilhas de excelência”, que eleva os patamares de titulação dos professores das instituições superiores e dos docentes das redes pública e particular, com consequente reconhecimento da comunidade, em nível regional, motivo de satisfação para todos.

A educação e a cultura, sempre, devem ter um caráter coletivo, integrar, permanentemente, uma nova política para o setor produtivo cearense, dando-lhe uma síntese civilizatória moderna adequada aos modelos que estão surgindo e que avançam no processo tecnológico e de inovação para, assim, fixar o homem à terra e à sua história. Não podemos negar isso ao futuro das famílias cearenses, que continuam assistindo ao sangrar dos nossos talentos.

Cândido B.C. Neto é coordenador da Educação Superior da Secretaria da
Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará