Analgésicos feitos com venenos de animais substituem morfina

9 de janeiro de 2017 - 19:43

Biodiversidade nordestina gera substâncias para criação de medicamentos no Ceará

O Ceará vem despontando no que diz respeito a inovações na área de Biotecnologia. Um desses exemplos é a pesquisa que conseguiu desenvolver novos analgésicos para o tratamento de dores neuropáticas a partir de substâncias da biodiversidade do Nordeste.

O projeto é executado pela empresa Genpharma, beneficiada com recursos do Programa de Apoio à Inovação Tecnológica nas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Estado do Ceará – Tecnova-CE. A empresa realizou a coleta de substâncias naturais dos venenos de animais típicos nordestinos. 

Um desses compostos obtido por síntese foi prospectado a partir da telocinobufagina, uma substância do veneno do anfíbio Rinhella jimi, popularmente conhecido como sapo-cururu. O outro composto foi prospectado a partir do veneno da serpente Crotalus durissus cascavella: a cobra Cascavel.


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Os compostos produzidos no Ceará estão isentos dos graves efeitos da morfina, tais como dependência, depressão respiratória e euforia.

Mais potentes que a morfina

Ambos os analgésicos apresentaram potência analgésica sobre a dor de cerca de 100 a 200% superior à da morfina, além de boa absorção por via oral. 

Uma outra vantagem dos compostos produzidos no Ceará é que por não serem substâncias opioides (derivadas do ópio) estão isentos dos graves efeitos da morfina, tais como dependência, depressão respiratória e euforia.

Os analgésicos estão em processo de patente. “Eles apresentaram propriedades que permitem o desenvolvimento de novos fármacos a partir de pequenas moléculas obtidas através de uma síntese fácil, rápida e mais barata”, explica o responsável pela empresa Genpharma, Krishnamurti Carvalho. 

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Os analgésicos foram prospectados a partir dos venenos do sapo-cururu e da cobra Cascavel, animais típicos do Nordeste.

O Tecnova-CE teve fundamental importância para o sucesso da pesquisa e para o incremento no número de projetos ligados à Biotecnologia no Estado. O programa foi concluído em dezembro de 2016 e financiou empresas de base tecnológica em setores estratégicos.

Ao todo, foram aportados para os projetos beneficiados recursos da ordem de R$ 20 milhões, oriundos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Governo do Ceará e, no caso do projeto da Genpharma, recursos também da própria empresa.

O Tecnova-CE foi coordenado pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), com execução da Fundação Astef, Rede de Incubadoras de Empresas do Ceará (RIC) e Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

A pesquisa dos analgésicos contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Universidade Estadual do Ceará (Uece), por meio do Laboratório de Toxinologia e Farmacologia Molecular do Instituto Superior de Ciências Biomédicas.