O Cariri no roteiro dos geoparques

3 de novembro de 2010 - 12:53

Região que possui o único geoparque do Brasil faz intercâmbio mundial e vai receber encontro latino-americano

Se eu falar para você que uma missão cearense foi à Grécia, no mês de outubro, participar da 9a Conferência Européia de Geoparques, você pode ficar “a ver navios”. Então, vamos por partes.

Está situado no Ceará o único geoparque brasileiro, o Geopark Araripe. Ele é um dos poucos membros da Rede Global de Geoparks (GGN), que possui apenas 60 integrantes, de 22 países diferentes.

Mas, possivelmente, você não conhece o termo “geoparqure”.
A tempo: geoparques são regiões delimitadas de preservação que possuem riquíssimos patrimônios geológicos e paleontológicos (geossítios) e estratégias sustentáveis de desenvolvimento socioeconômico.

Mas isso é apenas o começo. Nas palavras da professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Najila Cabral, os geoparques funcionam segundo a transversalidade necessária ao desenvolvimento sustentável do território, ou seja, aplicam, em seus territórios, o tripé da sustentabilidade: prudência ecológica, eficiência econômica e equidade social.

“São valorizados o saber local, seu legado histórico, cultural e social, seus produtos locais (geoprodutos), a essência dos seres que habitam aquele sítio desde sempre. Gooparks são territórios de sustentabilidade, onde o ser humano deve conviver harmonicamente com o meio que o cerca, respeitando a História do lugar (da Terra e do Homem)”, resume Najila.

Com isso na cabeça, a pergunta, agora, poderia ser: a missão cearense foi a representante brasileira no encontro… europeu?
A resposta, ainda que um tanto estranha, é sim. A missão à ilha de Lesvos, na Grécia, teve motivação acadêmica e também serviu para cumprir obrigações junto à Rede Global de Geoparks (GGN), pois os geoparques devem participar ativamente das atividades da Rede, pela necessidade de troca de experiências e de conhecimento. Como já foi dito, o Geopark Araripe é (o único brasileiro) membro da GGN.

SOBRE O GEOPARK ARARIPE
Situado no lado cearense da Bacia do Araripe, na região do Cariri, o GeoPark Araripe é grandioso. Estendendo-se numa área de mais de 3.500 km2, perpassa seis municípios caririenses, entre eles o famoso Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha) e é considerado um dos principais sítios do Período Cretáceo do planeta.

É uma região especial, destacada pelos achados geológicos e paleontológicos, com registros entre 110 e 70 milhões de anos. A diversidade e o estado de conservação da riqueza encontrada são excepcionais. Uma libélula chegou a ser encontrada até com os vasos sanguíneos preservados, razão pela qual se tornou símbolo do Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca).

Já foram inventariados, no GeoPark Araripe, 59 geossítios com grande valor científico, pedagógico, cultural e turístico, nove delas – definidas pela relevância científica – selecionadas para visitação.

Pioneiro
O GeoPark Araripe foi o primeiro parque fossilífero das Américas e do Hemisfério Sul reconhecido pela Unesco. É o único brasileiro do gênero que integra a Rede Global de Geoparks (GGN) e, para continuar como tal, será reavaliado este mês, num procedimento padrão de atualização dos parques realizado pela GGN a cada quatro anos.

Ao todo, a GGN possui apenas 66 membros, distribuídos em 20 países, 15 dos quais na Europa.
 
Sete cearenses partiiparam da Conferência: Teresa Mota, secretária adjunta da Secretaria da ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece); Patrício Melo, coordenador geral do Geopark Araripe; Álamo Saraiva, coordenador científico do Geopark e diretor do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri; Valéria Alves, da Universidade Federal do Ceará; Flávia Lima, geóloga do Geopark; Rosário Pinheiro, da Fundação para o Desenvolvimento Sustentável do Araripe e Nájila Cabral, do IFCE.

Eles apresentaram sete trabalhos relacionados ao Geopark Araripe, enfocando as três áreas de desenvolvimento de um geoparque: geoturismo, geoconservação e educação ambiental.

Próxima parada: Cariri
O conceito de geoparque já é bastante utilizado na Europa e na Ásia para reconhecer áreas com importantes valores geológicos. No entanto, seu reconhecimento na América Latina e no Caribe ainda está longe do ideal.

Para suprir essa lacuna, será realizada, de 17 a 19 de novembro, a 1o Conferência Latino-Americana e Caribenha de Geoparques, que reunirá geólogos, geógrafos, especialistas em desenvolvimento local, turismo e cultura, educadores e representantes políticos das regiões interessados na proteção e valorização do patrimônio natural e cultural.

O tema da Conferência será “Como Criar e Gerenciar Geoparques”. “Ela vai possibilitar aos profissionais da região conhecerem com mais fidedignidade o que é um Geopark, qual seu real conceito e seus objetivos, porque seria importante receber o selo Geopark da Unesco, quais as vantagens sociais, ambientais e econômicos que este selo pode agregar as populações locais, dentre outras informações significativas”, aponta Najila Cabral, professora do IFCE e integrante da missão cearense na Grécia.
Ela será realizada no próprio GeoPark Araripe, promovida pelo Governo do Ceará, Universidade Regional do Cariri (URCA) e pelo Geopark Araripe, em cooperação com a Unesco. As inscrições podem ser feitas através do site do GeoPark (www.geoparkararipe.org.br).

Selo Município Verde reconhecido
Uma das apresentações feitas pela missão cearense na Grécia foi a do “Index of Environmental Sustainability as another tool for assessing the sustainability of Geopark Araripe” (Índice de Sustentabilidade Ambiental como mais uma ferramenta para avaliação a sustentabilidade do Geopark Araripe), de autoria de Nájila Cabral, Marcela Girão e Teresa Mota.

Segundo Najila, o trabalho foi feito a convite de um consultor da Unesco, após conhecer o esforço que o Ceará empreende, desde 2003, na avaliação anual dos municípios frente ao compromisso de sustentabilidade ambiental, com o Programa Selo Município Verde.
A metodologia de avaliação que resulta no Índice de Sustentabilidade Ambiental dos municípios cearenses foi encarada como uma possível ferramenta importante para avaliar geoparks.

O que são os Geoparques?
Geoparques são territórios com limites bem definidos que possuem notáveis patrimônios geológicos e estratégias sustentáveis de desenvolvimento socioeconômico regional. Contêm número significativo de sítios de interesse geológico e aspectos de natureza arqueológica, ecológica, histórica e cultural.
Tudo isso como parte de uma estratégia integrada de proteção, educação e desenvolvimento sustentável.

São regiões de patrimônio geológico com especial significância geocientífica, raros atributos naturais e valor ornamental. Integram várias cenas naturais e pontos turísticos de interesse cultural em uma região única.

Não apenas sítios para viagens e turismo, mas para recreação cultural com nível científico relativamente elevado. São, também, áreas-chave de patrimônio geológico protegidas e bases para pesquisa e popularização das geociências.
 

 

 

Fonte:
Jornal O estado-CE
Editoria: O estado verde
Data: 02/11/10