Petrobras: óleo de cozinha vai virar combustível

24 de setembro de 2010 - 11:32

Através de convênio assinado ontem com a estatal, os catadores passarão a beneficiar o óleo de cozinha usado

Maria da Conceição é catadora e, junto a outros colegas da árdua labuta, forma uma associação que tem contribuído para que o óleo de cozinha que costumeiramente é jogado nas ruas e matos possa vir a ser transformado em energia. É que o óleo que ela e os outros buscam em estabelecimentos comerciais e recebem de doação de pessoas da comunidade está sendo vendido para a Petrobras para ser transformado em biodiesel em sua usina de Quixadá. Agora, Conceição espera apurar com esta venda pelo menos dobro do último preço negociado. Isso porque, através de um convênio assinado ontem com a estatal, os catadores passarão a beneficiar este óleo, elevando o valor do produto neste mercado. Por meio de um projeto piloto, a Petrobras Biocombustível investirá R$ 95,5 mil na capacitação de cerca de 250 catadores de lixo da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), na divulgação do programa e na aquisição de um módulo de beneficiamento para filtragem do óleo de fritura, com capacidade de processar 30 mil litros de óleos e gorduras residuais (OGR) por mês, custando R$ 36,5 mil do total. O convênio, assinado com a Rede da Catadores de Resíduos Sólidos Recicláveis do Estado do Ceará, da qual Conceição é presidente, envolve ainda a participação do Sebrae na capacitação dos catadores. Há planos de constituição de uma cooperativa destes trabalhadores no Estado. A expectativa é de que o processo de instalação do módulo seja iniciado em setembro e que, em dezembro, já se esteja processando o produto, fazendo a limpeza, armazenando e o transportando de maneira adequada para a usina, onde entrará na linha de produção do biodiesel. “O objetivo do projeto piloto é estabelecer uma estrutura que permita qualificar a coleta, o recebimento de óleos e gorduras residuais, que são jogados na natureza, no esgoto, na rua. Ou seja, o que hoje é um problema passa a ser uma fonte importante de matéria-prima, de geração de postos de trabalho, de renda e de agregação de valor para uma atividade já realizada pelos catadores”, afirma o diretor de Suprimento Agrícola da Petrobras, Jânio Rosa. A experiência deverá ser replicada nas usinas de Minas Gerais e Bahia. O diretor informou que já está em negociação com o Governo do Estado para a inclusão de outras quatro máquinas do mesmo tipo, fazendo com que, ao todo, a usina possa receber 150 mil litros de óleo por mês para o processamento, ou seja, 1,8 milhão de litros ao ano. O volume, contudo, é pouco representativo comparado à capacidade de processamento da usina, de 80 milhões de litros/ano. A Petrobras pagará aos catadores pelo produto coletado a quantia de R$ 1,00 por litro. A catadora Conceição vendeu à estatal, no último mês, cerca de 500 litros de óleo, ainda não beneficiado (portanto de menor valor para a Petrobras), e recebeu R$ 350.

Contudo, o valor teve que ser dividido por outros 30 catadores, que também colaboraram na coleta deste produto, o que gerou para cada um, no final, R$ 11,65. Conceição, que participa da Associação Amigos da Natureza, no bairro Bom Sucesso, afirma que, juntamente com os outros catadores da entidade, consegue coletar até 1000 litros por mês. Com o beneficiamento através do módulo de filtragem, poderá arrecadar R$ 1 mil com este volume, o que, dividindo em partes iguais com os outros, renderá R$ 33,30 mensais a cada um.

 

 

Fonte:
Diário do Nordeste
Editoria: Negócios
Data: 24/09/10