Jeffrey Sachs em aula magna na ICID+18

24 de agosto de 2010 - 12:01

A aula magna de Jeffrey Sachs, na quarta-feira, foi um dos pontos altos da ICID 18. O economista propôs aliança entre países com regiões secas e atacou o dono do Wall Street

1. A máfia das megaempresas midiáticas
“Tem que haver um pouco de responsabilidade no mundo e se você assiste à Fox ou lê o The Wall Street Journal, é exatamente o oposto”, atacou Sachs. “Quero uma campanha contra o Rupert Murdoch. Que idiota! Precisamos pensar em como abordar o problema das grandes corporações jornalísticas. São máquinas de mentiras, e isso é o cerne das nossas dificuldades, de disseminar a verdade”.

O conglomerado de Murdoch, para Jeffrey Sachs, compõe um quadro de negligência, de sabotagem científica a serviço da ganância de grandes empresas. O climategate*, segundo ele, foi um jogo sujo de propaganda. “As pessoas que lideram essa campanha, como o The Wall Street Journal, têm a audácia de atacar a comunidade científica”, disse.

“Não temos o dinheiro, os bilhões de dólares das empresas de petróleo e não somos bons de propaganda porque falamos a verdade em nossa profissão. Temos compromisso com a verdade, enquanto nossos oponentes mentem e vendem essas mentiras”, completou.

* O “climategate” foi a suposta invasão de hackers ao sistema de um dos maiores institutos de pesquisa climática do mundo, a Unidade de Pesquisa Climática da University of East Anglia (Reino Unido), onde teriam descoberto uma conspiração climática para convencer o mundo, com dados falsos, que as mudanças climáticas são preocupantes.

2. Criação de aliança mundial entre nações com regiões secas
Para Sachs, os líderes devem trabalhar juntos para pôr as áreas áridas na pauta global, inclusive na da reunião do conselho de segurança da ONU. E ele, assessor de Ban Ki-moon, pôs-se à disposição para articular a questão.

“Precisamos esclarecer ao mundo o que está em jogo com as mudanças climáticas nas áreas secas, para que os líderes globais entendam o risco e os benefícios de trabalhar nessas regiões. Precisamos criar uma aliança política mundial entre os líderes das terras secas. Se formada, será muito poderosa. Não só com a voz da ciência, mas com líderes políticos no mundo. Eu estou à sua disposição, se quiserem organizar isso. Eu conheço esses líderes”.

3. Terras áridas são violentas, e não é coincidência
“Temos geopoliticamente, uma crise crescente nas regiões secas, numa combinação de extrema pobreza e aumento da violência”, resumiu a ideia que relaciona diretamente pobreza com violência.

Sachs mostrou que as áreas secas concentram uma quantidade desproporcional das zonas de conflitos no mundo, o que não é coincidência. E, para ele, a crise nas regiões secas é questão de segurança mundial e um desafio para o desenvolvimento.

“A falta de chuva é uma questão de vida ou morte e o conflito vem da fome. As faixas de áreas secas concentram grande parte dos conflitos mundiais e são, ao mesmo tempo, áreas de ação militar dos EUA. Esses conflitos são vistos através de uma lente militar, como os que ocorrem no Afeganistão e no Paquistão”, diz.

A saída, para Sachs, não está nas armas. “Os americanos não conseguem enxergar a pobreza. Um dos recados que precisamos mandar é que há uma maneira melhor a assegurar a paz do que dar dinheiro a militares. Há mais nos conflitos que mera ideologia. O que queremos dos militares são seus engenheiros para fazer poços!”

Fonte:
Jornal O estado-CE
Editoria: O estado verde
Data: 24/08/10