ONU alerta para a urgência de agir contra a degradação

17 de agosto de 2010 - 11:52

Representante da ONU destaca gravidade do problema da degradação, mas acha possível uma saída

A realidade é alarmante mas, o clima, de otimismo. Na abertura oficial da Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (Icid+18), ontem, em Fortaleza, o tom dos discursos foi de esperança. Com os números batendo à porta – como os 45% de índice de desmatamento na Caatinga, principal bioma do semiárido brasileiro -, as autoridades presentes à solenidade destacaram que não adianta apenas colocar metas no papel. Apesar dos discursos, o baixo nível de comprometimento dos políticos regionais foi visível, tendo em vista que apenas o governador anfitrião, Cid Gomes (PSB), compareceu. Os ministros previstos (Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário e Ciência e Tecnologia) mandaram seus secretários-executivos.

É preciso agir, e rápido, para livrar dos efeitos da desertificação uma população de dois milhões de pessoas espalhadas pelo planeta. A agenda de discussões, aberta ontem em Fortaleza, e que prossegue até sexta-feira, no Centro de Convenções, será levada à Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, a ser realizada na Capital carioca em 2012, duas décadas após a Rio 92. “Que a agenda contemple fortemente as ações de sustentabilidade das regiões secas do Planeta e isso possa corrigir as distorções e descasos com as regiões que possuem mais pobres no País”, resumiu Antonio Rocha Magalhães, diretor da Icid+18.

Reflexos na década

Para Luc Gnacdja, secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação – que lançou ontem a Década Sobre Desertos e Combate à Desertificação -, a expectativa é de que a Icid+18 mude o paradigma de como as questões referentes ao semiárido são tratadas. “Se colocarmos cálculos e matemática em ação, a partir de hoje, haverá uma reversão (no problema da desertificação), afirmou.

As pessoas, conforme Gnacdja, têm de compreender que, “se nada for feito, em dez anos, teremos 120 milhões de hectares destruídos. Ou até mais que isso porque, em três anos, talvez tenhamos uma devastação superior a 50 mil hectares por ano, causando mais migração, insegurança alimentar, perda da biodiversidade, piora na questão das mudanças climáticas e causando comoção mundial”.

De acordo com Gnacdja, em 50 anos, cerca de 45% do Planeta terão pelo menos uma área onde um ecossistema deixe de existir. “Os cientistas precisam de informações e dados para a mudança de paradigma, para atingir o coração e a mente das pessoas”, destacou, ressaltando que a conferência possibilitará parcerias para que os Objetivos do Milênio sejam alcançados.

Compromisso político

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, José Machado, afirmou que espera ver brotar da Conferência um pacto político para que o Nordeste possa vencer as vicissitudes de uma região que tem um milhão de metros quadrados suscetíveis à desertificação.

“Precisamos inverter prioridades. Precisamos tomar decisões políticas para além do conhecimento técnico. O que está faltando (para mudar a situação), sobretudo, é compromisso do parlamento e dos poderes executivos”, frisou.

Machado vai levar ao governo Lula a proposta de que o Brasil seja signatário da Década de Combate à Desertificação da ONU, assim como o é do Pacto da Água. Para ele, depois de um hiato de 18 anos, a Icid supre uma significativa oportunidade da ciência, técnicos, políticos e formadores de opinião reverem e contribuírem com novos conceitos sobre o combate aos problemas que prejudicam a região nordestina. “Temos que fazer a lição de casa hoje, pensando nas futuras gerações”.

O prefeito mirim de Maracanaú, o estudante Davi Santos, 13 anos, teve o discurso mais aplaudido da abertura do evento. Com a simplicidade peculiar a uma criança, ele destacou a importância de a conferência apontar saídas capazes de garantir a continuidade da vida no mundo, sobretudo na sua terra: “O que for decidido seja para meus filhos e netos. Possamos dizer não à desertificação e desmatamento, e sim à vida”.

 

 

Fonte:
Diário do Nordeste
Editoria: Negócios
Data: 17/08/10