Semiárido: um possível celeiro de matéria-prima para fitoterápicos

6 de abril de 2010 - 16:37

Assunto será discutido na Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN)

O semiárido brasileiro pode vir a ser um grande produtor de matéria-prima
para a indústria de medicamentos fitoterápicos. Além da tradição secular do
uso de plantas medicinais, cuja eficácia científica vem sendo estudada
intensamente por pesquisadores, as características climáticas da região
fazem com que muitas plantas criem moléculas diferenciadas, com grande
potencial para o desenvolvimento de novos fitoterápicos.

“O estresse hídrico faz com que as plantas do semiárido tenham maior
potencial de produzir moléculas diferenciadas; mais do que em outras regiões
do País”, firma o médico Manoel Odorico de Moraes, do Departamento de
Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
do Ceará (UFC). Moraes, que atua como pesquisador na área, fará uma
conferência sobre este assunto durante a Reunião Regional da SBPC em Mossoró
(RN). Promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), o evento tem o objetivo de discutir o desenvolvimento sustentável do
semiárido brasileiro.

Ele explica que em condições normais o metabolismo de uma planta produz
reações químicas, como a fotossíntese, por exemplo, que possibilitam o
crescimento e a reprodução das células. Ou seja, fornece as funções básicas
para a vida do organismo. Mas, quando a planta é submetida a algum tipo de
estresse, ela passa a produzir novos tipos de moléculas para conseguir
sobreviver. No caso do semiárido, o estresse hídrico, provocado por longos
períodos secos e chuvas ocasionais concentradas em poucos meses do ano, é o
que desencadeia essa reação química.

Para Moraes, o semiárido possui todas as condições para abrigar uma cadeia
de produção de fitoterápicos: tradição popular do uso de plantas medicinais,
que facilita os estudos etinofarmacológicos; e uma boa infraestrutura de
pesquisa, com universidades e pesquisadores atuantes na área. “O estímulo ao
cultivo de plantas medicinais poderá criar uma cadeia de produção
bem-sucedida, desde pequenos produtores até a manufatura”, acredita.

Na sua avaliação, uma política de incentivo ao produtor, casada com as
descobertas que vêm sendo feitas pelas instituições de pesquisa da região,
poderia alavancar esse processo. “Só na Universidade Federal do Ceará temos
cinco medicamentos em fase de testes clínicos, que dentro de poucos anos
poderão ser comercializados”, conta o pesquisador. Um deles, que está sendo
patenteado, terá no mesmo medicamento ação anti-hipertensiva e ansiolítica –
algo inovador.

Mercado é o que não falta para justificar os investimentos na área. Segundo
Moraes, o segmento de fitoterápicos vem crescendo de 8% a 10% ao ano no
Brasil e já responde por R$ 500 milhões dos R$ 9 bilhões de todos os
medicamentos vendido no País. “Além disso, temos uma grande mercado externo
para explorar, a exemplo dos Estados Unidos, Alemanha e China que já são os
maiores compradores de fitoterápico do Brasil”, ressalta. “A exportação não
precisa ser necessariamente do produto manufaturado; pode ser da planta ou
do extrato, o que facilitaria o escoamento da produção via exportação”,
finaliza.

Serviço – A conferência “Fitoterápicos: uma alternativa para o
desenvolvimento sustentável do semiárido” será proferida pelo prof. Manoel
Odorico Moraes, no dia 14 de abril, das 10h30 às 12h00, na Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Veja a programação do evento no site
http://www.sbpcnet.org.br/mossoro/home/.