Ovário artificial de caprino produz 1 embrião “in vitro”

1 de dezembro de 2009 - 11:36

“Pesquisa inédita no mundo analisa primeiro embrião “”in vitro”” de ovário artificial de caprino na Favet-Uece”

Fortaleza. O primeiro embrião “in vitro” obtido a partir de ovário artificial caprino foi produzido pelo pesquisador José Ricardo de Figueiredo e sua equipe, na Faculdade de Veterinária, da Universidade Estadual do Ceará (Favet-Uece). A pesquisa é inédita no mundo e tem como uma das metas principais otimizar a produção de embriões em larga escala e de baixo custo, com a preservação do bem-estar animal. O embrião encontra-se em análise no Laboratório de Manipulação de Oócitos e Folículos Ovarianos Pré-Antrais (Lamofopa), da Favet, no Campus do Itaperi. “Essa técnica desperta grande interesse na reprodução medicalmente assistida em humanos, porque também poderá preservar o bem-estar da mulher, reduzindo o risco de transmissão de doenças como o câncer, por exemplo, por ser uma alternativa aos enxertos de ovário para restauração da fertilidade em mulheres”, afirma Ricardo Figueiredo.

O ovário artificial é um termo criado pelos pesquisadores para tornar a técnica reprodutiva melhor compreendida pelo grande público. Na realidade, trata-se de um ovário de caprino manipulado em laboratório, que visa oferecer, artificialmente, as condições necessárias para evitar a morte dos óvulos, permitindo o seu crescimento e maturação “in vitro”. Visa à posterior fecundação e produção em laboratório de embriões em larga escala, futuramente, a partir de animais melhorados. “Em síntese, o ovário artificial é o crescimento dos óvulos fora do organismo materno”, diz o pesquisador.

Fases do óvulo

A novidade da técnica é que possibilita o melhor entendimento sobre o funcionamento do ovário mamífero, especialmente nas fases iniciais de crescimento do oócitos (óvulo). A pesquisa permite observar em laboratório o óvulo dentro do folículo, em todas as suas fases, desde a pré-antral, como nos folículos primordial, primário, secundário, até a fase antral, como terciário, pré-ovulatório e ovulação. O embrião desenvolvido pelos pesquisadores cresceu a partir da fase de folículo pré-antral secundário extraído do ovário de caprino, obtido de matadouro por meio de técnicas especiais. “O folículo secundário cresceu e maturou in vitro. Após ser fecundado, gerou um embrião viável que se desenvolveu até a fase de mórula, ou seja, o estágio final do desenvolvimento embrionário, ficando pronto para a transferência em uma fêmea receptora”, afirma Figueiredo.

Vale destacar que 90% dos óvulos produzidos por uma fêmea estão nas fases iniciais (pré-antral, ou seja, antes do desenvolvimento do antro, uma cavidade repleta de líquido folicular necessário ao desenvolvimento do óvulo). Somente 10% desses oócitos passam ao estágio posterior (antral). Segundo explica Figueiredo, 99,9% dos oócitos morrem pela atresia, que acontece predominantemente na fase antral. Uma bezerra, por exemplo, nasce com cerca de 300 mil oócitos. Somente 300 chegarão à ovulação, sendo o restante perdido pela atresia. De acordo com o pesquisador, o ovário artificial evita essa morte natural, favorecendo o crescimento, maturação e fertilização “in vitro”, resultando na produção de embriões futuramente. Com a técnica, o animal poderá continuar no pasto, enquanto uma pequena parte sua, um fragmento do ovário, estará produzindo, em laboratório, oócitos/embriões em larga escala.

O ovário artificial tem ainda grande importância para a indústria farmacêutica e, consequentemente, para a saúde humana. A técnica possibilita avaliar o efeito tóxico das drogas disponíveis sobre o ovário. Em outubro, Ricardo de Figueiredo esteve viajando por países da Europa como França, Bélgica, Holanda e Escócia, objetivando divulgar a pesquisa, por meio de palestras. Sua meta é estabelecer parcerias com laboratórios europeus na área de reprodução humana.

Uma das maiores autoridades da área, Johan Smitz, da Universidade Livre de Bruxelas, da Bélgica, que trabalha diretamente com reprodução assistida em humanos, mostrou grande interesse em fazer parceria científica com o laboratório da Favet. Uma visita desse pesquisador no Lamofopa está prevista pata o próximo ano, assim como a viagem de pesquisadores da Favet para Bruxelas ao longo dos próximos anos.

As pesquisas desenvolvidas no Lamofopa foram iniciadas há três anos, porém, Ricardo de Figueiredo já realiza estudos na área há cerca de 20 anos, desde o início de sua carreira acadêmica. A equipe do laboratório é formado por 35 membros, entre pesquisadores, alunos e técnicos. O trabalho é patrocinado pela Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) e CNPq. Também tem recursos da Funcap e do Finep.

Graças a esta última instituição, o Lamofopa foi ampliado de 70 metros quadrados para 400m em agosto do ano passado, sendo determinante para o avanço dos estudos.

Fonte:Diário do Nordeste
Editoria:Regional