A década de combate à desertificação

17 de agosto de 2010 - 11:30

Durante a abertura do ICID%2b18 foi lançada a década para os Desertos e Combate à Desertificação. A meta é alcançar mais consciência da população e apoio político na luta contra a desertificação. Mas de acordo com um dos especialistas presente no evento, o Nordeste é uma das regiões menos atingidas

Preservar milhares de hectares e reduzir a pobreza de um terço da população. A segunda Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID+18) vem com a missão de discutir alternativas para a redução dos impactos ambientais nos ecossistemas do semiárido e da desertificação no planeta. “É um problema global que exige uma resposta global”, resume o secretário-executivo da Convenção de Combate à Desertificação da ONU (UNCCD), Luc Gnacadja. Cerca de dois bilhões de pessoas em todo mundo moram em áreas secas e não tem acesso à água. O elevado nível de desertificação e a carência em gestão de recursos acabam contribuindo para a maior incidência de problemas sociais nessas regiões.

Mas o Nordeste brasileiro teve boas notícias do pesquisador e geógrafo Hervé Thery, que apresentou o estudo “Desertos e desertificação”. Ele apontou dados sobre a desertificação em diversas regiões do mundo. De acordo com o pesquisador, o Nordeste brasileiro, apesar de ter problemas com o clima, não está entre os locais que vão estar no limite dentro de 50 anos. “A principal área atingida está nos continentes africano e asiático”, afirmou.

Para o governador Cid Gomes a preocupação não é menor por causa disso. “Não tem nada que degrade mais o meio ambiente do que a miséria”, declarou. Para ele, não é razoável que 27% da população cearense tenha sua sobrevivência baseada no setor primário. O diretor de Gestão de Desenvolvimento do Banco do Nordeste, José Sydrião Alencar, acredita que as áreas degradas do Nordeste devem ser cuidadas através do reflorestamento de espécies nativas, do gerenciamento de recursos hídricos e aprofundamento de políticas sociais. A massificação do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) é outro exemplo. De acordo com Alencar, dois terços dos financiamentos estão garantidos. “Isso implica na recuperação econômica do semi-árido. É o crescimento através da auto-sustentabilidade”.

Futuro
Durante a abertura do ICID+18, a ONU lançou a década para os Desertos e Combate à Desertificação. Segundo Luc Gnacadja, existem dois caminhos a serem trilhados. “Um deles é prejudicando o meio ambiente e o outro, é a abertura de um canal de coletividade para minimizar os efeitos devastadores no semiárido”. A partir do cenário atual, a expectativa é de que um terço das colheitas produtivas deixem de existir até 2050. Por isso, o ICID+18 ganha força no legado de criar um novo paradigma, com o cumprimento das metas do milênio.

Para Luc, o Brasil tem sido um importante instrumento de formação do pacto contra a desertificação do semiárido. O diretor do ICID+18, Antônio Rocha Magalhães lembra que a realização do evento em uma das regiões mais secas do planeta, como é o semi-árido brasileiro, promove uma maior reflexão sobre o conjunto de recomendações técnicas que devem ser estipuladas durante os quatro dias do evento. “A nossa meta é influenciar a agenda do Rio+20, em 2012, para que seja contemplada a questão de desenvolvimento e sustentabilidade das regiões secas. É preciso corrigir a falta de prioridades nessas regiões onde os efeitos climáticos podem ser mais drásticos”, afirmou.

Após o hiato de 18 anos, o ICID+18 é uma oportunidade de rever conceitos e ir além da boa técnica, através do estabelecimento de novas metas. O secretário executivo do Meio Ambiente, José Machado, ressalta a importância política do evento. “Temos que inverter prioridades, tomar decisões políticas e ir além do conhecimento técnico-científico. O que falta é compromisso e vontade política”, opinou.

 

 

Fonte:
Jornal O POVO
Editoria: Economia
Data: 17/08/10