Pesquisadores se reúnem na URCA em defesa da ciência e contra os cortes de bolsas

5 de setembro de 2019 - 11:50 #

 

Pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (URCA) estiveram reunidos na tarde desta terça-feira, 3, para debater os principais agravantes causados pelos cortes drásticos nos orçamentos do CNPq e CAPES feitos pelo Governo Federal e que atingem de forma considerável a pesquisa no Cariri. Conforme dados repassados pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da URCA (PRPGP), os cortes terão um impacto devastador sobre o financiamento de projetos e bolsas de pesquisa, que alcançam a soma de R$ 4,2 milhões anuais, o que representa um considerável abalo na economia regional.

O debate com os pesquisadores aconteceu no auditório da sede do Geopark Araripe, em Crato, contando com a presença do Reitor da instituição, Francisco do O’ de Lima Júnior, professores pesquisadores, bolsistas, alunos da graduação, mestrado e doutorado, além de representantes de diversos setores da URCA.

O Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, Professor Irwin Alencar, destacou, através de dados levantados na universidade, e diante das últimas informações divulgadas sobre os cortes nas bolsas do CNPq e, mais recentemente, da Capes, que o cenário que se apresenta é dilacerante, com comunicados de suspensão de qualquer tipo de bolsa. Apenas aqueles pesquisadores que já haviam garantido a implementação de suas bolsas devem continuar recebendo, mas os que pretendiam ou estavam na iminência de iniciar os seus projetos, não poderão contar com a implementação de bolsas que estavam em processamento.

Para o pró-reitor, essa realidade traz um grande desalento para a academia, por causar um impacto social que afeta o aluno, além do desenvolvimento e a economia regional. “Essas bolsas representam importante incremento na economia do Cariri”, disse. O aporte anual das pesquisas realizadas somente na URCA chega a R$ 4 milhões e 270 mil. Somente na iniciação científica, o valor dos investimentos representa, anualmente, um recurso de mais de R$ 1,5 milhão, sem contar com as bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Os cortes anunciados reduzem drasticamente esse valor e ameaçam a atividade e a formação de pesquisadores.

Segundo o Pró-reitor, esse impacto vai afetar o futuro da ciência, da tecnologia e o desenvolvimento econômico do Brasil, indo na contramão de outros países que passaram por crises e que não tomaram esse tipo de medida. Pesquisas importantes no Brasil serão atingidas, como a do tratamento das arboviroses, uma das mais desenvolvidas nesse segmento, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conforme o pesquisador, essa nova realidade já representa um retrocesso equivalente a uma década.

O professor Irwin Rose mostrou, através de gráficos, o crescimento do número de bolsas, principalmente em 2014 no País. Foram mais de 175 mil bolsistas no Brasil, o que ainda é pouco para a dimensão do país que nós temos. Com redução de 50% para o próximo ano, a Capes, que hoje é o principal meio de fomento para as bolsas de mestrado e doutorado, fica comprometida em sua principal finalidade e os efeitos serão sentidos por muitos anos. “A pós-graduação reflete na qualificação do povo brasileiro, na independência científica e tecnológica”, disse o Pró-Reitor.

Outra grande preocupação dos pesquisadores está relacionada à evasão de pesquisadores do Brasil. O País ficará sem condições de manter pessoal capacitado e programas no Norte e Nordeste. “É importante colocar essa situação, para que seja revisto esse processo de corte. O que se prevê é um verdadeiro colapso e estrangulamento da pós-graduação brasileira, principalmente na região Nordeste”, avalia o professor Irwin.

Impacto no Crajubar

Com os cortes, o índice de evasão pode aumentar na Universidade. Diante da preocupação da realidade dos cortes, o Reitor Francisco do O’ Lima Junior afirma que é necessário pensar em ações para responder ao cenário colocado, com resistência política e que tenha um sentido institucional, mas acima de tudo político. “O que a gente assiste hoje no Brasil é o desmonte do que ainda foi pensado na época do planejamento estruturante para o desenvolvimento brasileiro”, disse. Ele citou as duas principais instituições de fomento brasileiras e a estatal Petrobrás como exemplo desse legado.

O modelo de avaliação dos sistemas de pesquisa e tecnologia do Brasil, implementado pela Capes, é um dos melhores do mundo e sua capacidade de orientar a expansão e aprimoramento da pós-graduação fica seriamente comprometido com os novos cortes. Mas isso ainda não é tudo. No Cariri, conforme o Reitor, há setores importantes que podem se beneficiar com a apropriação do conhecimento científico produzido nos mestrados e doutorados, a exemplo das indústrias de fármacos, calçados e folheados, entre outros segmentos da economia. O Reitor encerrou sua fala ao destacar a relevância de se estar alerta nesse momento em relação ao contexto nacional. Lima Junior sugeriu a criação de um grupo de trabalho para pensar as resistências, não apenas da URCA, mas do Cariri.

Salvaguarda

O Professor do curso de Letras, Edson Martins, chamou a atenção para o momento de defender a salvaguarda da existência da instituição e da soberania da nação, ambas ameaçadas. Ele avalia que essa nova realidade representa um abalo não apenas na economia, mas, pela interrupção do que era uma trajetória crescente, significa um risco ainda maior. “Esses cortes criam desertos geoeducacionais. Desmontam o fundamento da presença de instituições da Ciência, como uma parcela da sociedade organizada”, diz ele.

O Professor Waltécio Oliveira propôs um documento endossando a participação dos cursos superiores e institutos da região nesse esforço de possibilitar uma força de reivindicação, para travar esse processo. “Prefiro um grito de um homem ou de uma mulher sozinhos do que o silêncio de uma multidão inteira”, afirmou.

Outras propostas foram levantadas ao longo do debate, com a preocupação de fortalecer esse movimento, principalmente no sentido de evitar a saída do aluno da universidade. Para os professores, é o momento de se fazer tudo para atravessar a crise ou, caso contrário, reverter esse processo será praticamente impossível.